Dr. Eduardo Iunes, neurocirurgião, esclarece que, além da queda em águas rasas que resultou no acidente com o escritor, o Trauma Raquimedular pode ocorrer de outras maneiras
O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, estrelado por Fernanda Torres, alcançou grande sucesso tanto nas bilheteiras quanto entre os críticos, e sua repercussão se estende até o cenário internacional. Essa produção, que está na disputa pelo Oscar 2025, é inspirada na obra homônima do jornalista Marcelo Rubens Paiva, lançada em 2015.
Marcelo, que tem 65 anos, é conhecido por seu trabalho como escritor, dramaturgo e jornalista. Aos 20 anos, ele passou por uma experiência marcante. O autor sofreu um acidente ao pular de uma pedra em um lago raso, que na verdade era um açude lamacento localizado em um sítio às margens da Rodovia dos Bandeirantes, em Campinas. A colisão da cabeça com o fundo do lago resultou na fratura de sua quinta vértebra cervical, levando-o a ficar tetraplégico. No entanto, após um intenso tratamento de fisioterapia e terapia ocupacional, ele conseguiu recuperar os movimentos das mãos e dos braços.
Situações que podem resultar em TRM
Em conversa com o Dr. Eduardo Iunes, neurocirurgião do Hospital Ortopédico AACD, ele menciona que, além do mergulho em águas rasas, o Trauma Raquimedular (TRM) pode ocorrer em situações como quedas de grande altura, acidentes automobilísticos, práticas esportivas e agressões físicas resultando em trauma direto na coluna vertebral.
No caso de mergulho em águas rasas, o neurocirurgião esclarece que esse tipo de acidente geralmente provoca uma lesão típica na coluna cervical, que acontece devido ao impacto do rosto com o fundo de uma piscina ou rio, ocasionando a hiperextensão da região cervical. Por sua vez, quedas em pé costumam resultar em lesões na coluna tóraco-lombar, especificamente entre as vértebras T11-12 e L1-2, que é a transição entre a cifose torácica e a lordose lombar.
Para determinar a gravidade do dano na medula espinhal, o especialista aponta que exames de imagem óssea, como tomografias e radiografias, são eficazes na identificação de fraturas e desalinhamentos. As lesões na medula espinhal são avaliadas por meio de ressonância magnética.
O que é TRM e quais são os danos
O TRM pode ocasionar complicações quando afeta os componentes estabilizadores da coluna, como fraturas, lesões nos discos e nos ligamentos, resultando em dor, desalinhamentos e deformidades como cifose e escoliose. Segundo o especialista, se o dano atingir a medula espinhal, pode causar perda de força, sensibilidade e controle dos esfíncteres de urina e intestino abaixo da área lesionada. Por exemplo, um TRM na região cervical pode comprometer a sensibilidade e a força dos braços, tronco e pernas, enquanto um trauma na coluna torácica, na altura do umbigo, pode levar à perda de força e sensibilidade nas pernas.
Dr. Eduardo explica que, em casos de traumas severos que provocam qualquer nível de instabilidade (desvios ou deformidades) ou lesão neurológica requerem intervenções cirúrgicas para estabilização, utilizando placas e parafusos, além de descompressão neurológica para ampliar o espaço na área afetada pelo trauma. No entanto, há situações em que os tratamentos podem aprimorar a qualidade de vida do paciente, como em casos de traumas menores que não provocam instabilidade ou deformidades e não pressionam a medula espinhal. O procedimento envolve imobilização através de órteses, analgesia, período de descanso, seguido de reabilitação física.
Foto destaque: Elenco de Ainda Estou Aqui/escritor Marcelo Rubens Paiva/Reprodução/@oficialfernandatorres/@marcelorubenspaiva/Instagram)
